Carlo Antonini recebe uma nova paciente em seu consultório, em Nova York. O que parece uma consulta trivial, pouco antes de uma viagem que o terapeuta fará a São Paulo para uma palestra e alguns dias de férias, desencadeia uma trama envolvendo um casamento conturbado, uma organização suspeita de terrorismo, um assassinato e uma história familiar de vingança. Para escrever a nova aventura do protagonista de O conto do amor, seu aclamado romance de estreia, Contardo Calligaris usou elementos autobiográficos recriados num enredo que une investigação psicanalítica e policial. Minha memória é uma espécie de comédia dell arte , diz o autor, na qual as lembranças ganham vida própria e vão, aos poucos, compondo uma história. O livro traça o paralelo aparentemente improvável entre o que Antonini desconfia se esconder sob as palavras de sua paciente - a descrição de uma festa com seus dois filhos na qual tudo será vermelho e branco - e o encontro fortuito, num restaurante do bairro da Liberdade, com uma namorada vietnamita dos tempos em que morou em Paris. A tentativa de me enlouquecer, maquinada por duas mulheres perigosíssimas? , ele pergunta a certa altura. A resposta talvez esteja em outra fala sua: Policiais e psicanalistas temos isto em comum: não acreditamos em coincidências, não é mesmo? . Nesse mergulho num mistério que une passado e presente, há momentos dignos de um thriller, como o cerco a um suspeito num drive-in da zona leste paulistana, ou as conversas entre o narrador e um célebre consultor americano especializado em segurança pública. Ao mesmo tempo, emerge das ações externas uma reflexão delicada sobre identidades individuais - de ordem étnica, religiosa, ideológica, sexual - no mundo contemporâneo. Por trás de tudo, como uma suma da variedade de temas que o romance trata por vezes com tensão dramática, por vezes com leveza e ironia, a impossibilidade de estabelecer uma versão definitiva dos fatos. O que aconteceu é, antes de mais nada, o que contamos no primeiro relato , diz Antonini. E isso vale sobretudo quando se trata de um acontecimento que preferiríamos deformar ou esquecer. Uma lição que terapeutas e escritores, acostumados a lidar com a ambiguidade das palavras e com as verdades construídas pelos mecanismos subjetivos da memória, sabem desde sempre.
Peso: | 272 g. |
Páginas: | 208 |
ISBN: | 9788535918434 |
LETRAS & CIA - CNPJ n° 88.587.548/0001-20 - AV. NAÇÕES UNIDAS - RIO BRANCO - - NOVO HAMBURGO - RS
Atualizamos nossa política de cookies. Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita a nossa política de monitoramento.