A poesia de José Paulo Paes tem a rara capacidade de saciar o leitor em pouquíssimas linhas. Entre os poetas brasileiros do século XX, ele ficou conhecido como o mestre do epigrama - aquele tipo de poema curto e mordaz cuja matéria-prima é uma atenta observação do mundo e do ser humano. Ao descrever um shopping center, por exemplo, ele relembra o Inferno de Dante: Pelos teus círculos/ vagamos sem rumo/ nós almas penadas/ do mundo do consumo . Muitas vezes, a ironia se volta contra o próprio autor, que declara ser o poeta mais importante da sua rua, mas confessa: Mesmo porque a minha rua/ é curta . Num brevíssimo jogo de palavras, José Paulo resumiu as regras principais da sua poética: conciso? com siso/ prolixo? pro lixo . Mas a poesia da concisão, para ele, é também a da dúvida - palavra que, aliás, serve de título ao derradeiro poema, escrito na véspera de sua morte. Cético, o poeta não prometeu amar a Deus sobre todas as coisas , mas em cada uma delas , como quem opta com firmeza pelo mundo: hás por certo de preferir um agnóstico fora do teu templo a um vendilhão dentro dele . Por muitas vezes, o poeta se armou com os recursos do sarcasmo e da sátira para denunciar o cinismo dos poderosos e a banalização da vida no mundo contemporâneo. De fato, não existe vício mais oposto à poesia de José Paulo do que a ganância. Até mesmo ao imaginar uma inscrição para o seu túmulo, ele optou pela parcimônia: para quem pediu sempre tão pouco/ o nada é positivamente um exagero .
Peso: | 653 g. |
Páginas: | 518 |
ISBN: | 9788535913385 |
LETRAS & CIA - CNPJ n° 88.587.548/0001-20 - AV. NAÇÕES UNIDAS - RIO BRANCO - - NOVO HAMBURGO - RS
Atualizamos nossa política de cookies. Utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência. Ao continuar navegando, você aceita a nossa política de monitoramento.